Sent ir

O que a incomodou não foi ele, mas o que ele representou. Não sua capacidade de fazê-la sentir outra vez, mas o que significava sentir. O querer que sentir provocava já não era mais tão forte que sua razão.

Ela recuou. Sentir ressaltou nela mesma uma sabedoria para dizer não, mais conhecida como covardia para dizer sim. Fingiu não querer, encenou segurança, enquanto despistava os olhares que quase capturaram os seus. Fugiu antes que algo lhe tocasse e tirasse sua sensatez. Desarmou armadilhas que se ocultavam naquelas simples aproximações. Simpatia e risos dançavam em sintonia, mas a música que os movimentava, cada vez mais alta, tinha um propósito escondido que ela já reconhecia. Era essa a única maneira de calar os alertas e perigos.

Saiu. A tempo de manter o disfarce e não deixarem descobertas as marcas de engano que o sentir deixou em seu corpo. O que antes brilhava como benefício, euforia e descoberta, no agora se apresentava como ameaça, capaz de destruir suas experiências e convicções. Acima um paraíso ocultando riscos e contradições. Abaixo um vale de emoções e fragilidades. Acima um paraíso superficial que não mais lhe atrai.

Sentir é queda. E seus pés já estão firmes no chão.
Sentir é relação. E sua razão não quer condições.

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Erkin Demir.

  

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