Espírito solto

PART I

Ninguém mais vai me roubar de mim
Não vou permitir
Um assalto sequer das minhas partes
Nem sequer dos meus vazios

Ninguém ouse me assaltar pra si
O eu sou precisa da minha essência inteira
Só assim ela será genuína
E quiçá bonita

Ninguém existe para me pertencer
Não sou obra que se compra
Nem comida que se digere

Sou vida
Espírito solto, dentro desse corpo
Que finalmente encontrou a alma
De ser

PART II

E como
É viver sem tirar do outro um pouco?
Sem dar de si pro outro?

A palavra que tira os alicerces
O riso que arranca as duvidas e nos altera
O abraço que preenche as faltas
A ausência que diminui, a morte que corta
A liberdade do outro que impede sentimentos de prosseguir

É possível se manter sem ser tocado?
Sem excluir-se ou somar algo errado?

Será que
a fartura de si
seria a resposta certa pra manter a alma inteira?

Será que
a certeza de si, o sentimento de eu,
não exclui qualquer chance dos plurais existirem?

Plural ou singular
Quero misturar
Sem me perder
Quero (te) encontrar
Onde a independência não isola
As diferenças não separam
As intenções possam sintonizar

PART III

Toque
Sem diminuir
Visite sem bagunçar
Cativa sem exigir
Encontre sem marcar
Marque sem machucar

Toque
Que excita
Que faz tirar a roupa, as máscaras
Na medida que a leveza de sermos incita

Só não faça de qualquer nós algo que sangre
Ou perturbe o eu de cada um
Ninguém tem o direito sobre o ser do outro
Ninguém tem direito de tomar a vida do outro

Com carinho
(com amor se for possível)
Toque.

E que todos os achados se encontrem
Que todos os perdidos se achem
Que cada vida se mantenha abundante
E aproveite cada chance de se re
tocar

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira
/Fotos do ensaio "Dialog" de Rudolf Bonvie



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